As águas, que não são de março, e nós, que somos cegos...

17/07/2010 17:38

 

Bastou uma forte chuva para desmontar o bolo de noiva, a cenografia barata que se transformou a cidade de Cabo Frio. A última chuva mostrou, mais uma vez, que a população deve cobrar dos governantes, de forma dura, responsabilidade na aplicação do dinheiro público. Transparência e democracia no orçamento municipal, atualmente,  são peças de discurso vazio, de difícil conquista.

 Assistimos administrações sucessivas, de forma equivocada, do ponto de vista do investimento público, tentando, a todo custo, dar a cidade um visual de cinema do tipo “Miami Beach”, “Key Biscaine”, “Cancun” e outras maravilhas do mundo contemporâneo. Esquecem do essencial, a infra-estrutura urbana, que quando inoperante, causa prejuízos e afeta a saúde pública.

Como justificar, por exemplo, tamanho investimento em ações desnecessárias como os mega shows, que consomem milhões de reais da cidade, e que poderiam estar sendo usados em infra-estrutura? Como justificar a absurda obra de “REVITALIZAÇÃO” de parte da orla da Praia do Forte, levada por recente ressaca, quando problemas graves de drenagem pluvial em seu entorno, dificultam, por ocasião das fortes chuvas, o acesso a essa mesma orla? E quem, em sã consciência, pode afirmar e comparar a beleza da orla antes e depois da obra desmanchada pela ressaca, se a praia, um acidente geográfica de inigualável beleza, por si só, é início, meio e fim, fruto de sua espontânea naturalidade? Querer transformá-la em um “bibelô”, em um objeto de decoração, passando por cima das reais prioridades da cidade, é um crime contra o bom senso.

O resultado de tamanha injustiça não tarda a arder, nos olhos dos outros é claro! As chuvas castigaram a cidade e causaram transtornos com enchentes em praticamente todos os bairros, o que intensificará, com certeza, o aparecimento de doenças de veiculação hídrica, como a dengue e a hepatite, função, mais uma vez, da falta de investimentos corretos e de planejamento em obras de infra-estrutura urbana.

Torçamos para que o prefeito não lance mão de um personagem ancestral muito comum na história política do nosso país, o famoso “ bode expiatório, segundo os dicionários, pessoa ou algo sobre o qual se fazem recair as culpas alheias ou a quem são imputados todos os reveses”.

O que precisamos é definir um Plano Diretor para a drenagem urbana. Determinar a capacidade de escoamento dos principais canais, um cronograma de limpeza periódica, estudos hidrológicos, caracterização de micro-bacias e um programa de investimentos continuados, são algumas ações que, a médio e longo prazos, reduziria a magnitude dos impactos nos bairros citados. Caso contrário, é torcer para que as águas das chuvas desmanchem, não as vidas de inocentes, mas as maquiagens dos nossos mascarados.

  

JUAREZ MARQUES LOPES

Engenheiro Civil Sanitarista

Presidente do Partido Verde

Cabo Frio

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