Mudanças Climáticas - Minuta de Novo Acordo É Confusa e Vaga - II

07/10/2009 14:11

Toda a estratégia de redução das emissões de gases causadores de mudanças climáticas dos países desenvolvidos fundamenta-se no desenvolvimento tecnológico.  Trata-se de um amplo conjunto de avanços que depois serão vendidos aos países em desenvolvimento com bons lucros.  Isso é o que já acontece, por exemplo, com o silício que o Brasil exporta e que depois recompra por um preço dezenas de vezes mais elevado sob a forma de painéis de energia solar.  O Brasil não tem produção autônoma de painéis fotovoltaicos.

Não há como ter um monitoramento efetivo do fracasso ou do maior ou menor grau de sucesso dessas estratégias nacionais para os países desenvolvidos, que ainda dependem de fatores imponderáveis na área do desenvolvimento científico e tecnológico, bem como da comercialização e da disseminação das novas tecnologias.  Essa é a razão pela qual eles preferem esquecer o naufrágio do Protocolo de Quioto!

Por outro lado, a estratégia para a redução da emissão dos mesmos gases que vem sendo imposta ao Brasil – e que o governo brasileiro ameaça nos fazer engolir – consiste em receber um trocado para assegurar o desmatamento zero debaixo de severo monitoramento externo.  A mesma velha posição de pedintes agora disfarçada com o nome de fantasia de “compensações por serviços ambientais” (um conceito válido quando aplicado de maneira mais específica e de interesse regional).

Ou seja, de um lado avança-se rapidamente no caminho de tecnologias que podem assegurar um processo de adaptação menos doloroso para os países desenvolvidos e, de outro, faz-se o engessamento do país cuja sobrevivência das florestas não depende inteiramente de suas próprias ações – já que as mudanças em curso alterarão o clima na Amazônia com ou sem a intervenção do governo brasileiro.

O chiclete com banana consolidado na minuta do novo acordo de Copenhague é vago quando se trata de assegurar punições para os países desenvolvidos que não cumprirem metas, mas preciso quando se refere à imposição de que o trocado pela manutenção e ampliação das áreas florestadas, que só será devido se os países monitorarem e atingirem essas metas de engessamento.  O objetivo de transformar a Amazônia num imenso Xapuri encontra apoio entre lideranças políticas brasileiras cujos eleitorados preferem o simplismo dos slogans ao estilo twitter, com no máximo 140 caracteres.

Cerca de 50% das florestas amazônicas já são unidades de conservação (federais, estaduais e municipais) ou reservas indígenas (não consideradas as áreas de preservação permanente).  Se o governo tiver competência - como não nunca teve - para cuidar do desmatamento nessas áreas ou pelo menos nas unidades de conservação já será bom demais.

O fraseado sobre essa transformação das florestas brasileiras numa imensa reserva dos países que não têm e nem se propõem a recompor um percentual equivalente de suas coberturas florestais originais mantém o tom assistencialista do Banco Mundial (nenhum país jamais se desenvolveu com apoio dessa turma!), e pode ser encontrado a partir da página 106 do documento cujo link já foi fornecido no artigo anterior sobre o tema (ver abaixo).  Ou seja, iPhones para eles e apitos para os silvícolas.

https://unfccc.int/documentation/documents/advanced_search/items/3594.php?rec=j&priref=600005444#beg

Essa abordagem é agravada pelo fato dos fervorosos defensores do desmatamento zero – a Amazônia sem esses incômodos amazônidas seria bem melhor! – recusarem-se a sequer reconhecer a existência – para não falar da imensa superioridade - da EMBRAPA quando se trata de práticas de desenvolvimento sustentável das florestas amazônicas, sobretudo por medo de ter que ouvir os seus excelentes profissionais também no que se refere às mudanças no Código Florestal.

Trata-se da ignorância voluntária.  Voluntária e oportunista.  É fácil ter uma idéia da quantidade de propostas mais sérias – aliás, as únicas sérias – de desenvolvimento sustentável da Amazônia passando os olhos no link abaixo.

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