DE PAI PARA FILHOS

15/09/2010 13:48

Por Juarez Lopes

Há momentos em que olho para frente e me surpreendo.

Me surpreendo com o passado, com o presente e, com o futuro então, Deus me livre!

Quando me olho e me percebo, às vezes, estou morrendo de saudade dos meus filhos, da vida que vivemos, das nossas brincadeiras, das nossas angústias, dos nossos sonhos, das nossas armadilhas.

Filhos? Como não tê-los? Como não sentir o prazer de vê-los crescerem, se adaptarem rumo à eternidade, rumo à vida adulta. Como não se emocionar com os seus medos, com as suas ousadias, com as suas incertezas.

Lembro perfeitamente de você nascendo. Davi, o primogênito, ansiado por nós, esperado por todos, como um Davi mesmo. Tantas coisas vivemos juntos. Você se tornou uma pessoa bacana, músico como eu, inquieto, imperfeito como todos, mas de coração alado. Lembro o dia em que, de emoção à flor da pele, vi você destronar um time considerado imbatível com a sua técnica salonística e se tornar campeão com uma atuação de gala. Hoje, dia 08 de agosto de 2010, às 15:45 horas,  longe fisicamente, sinto-o ainda mais próximo. As Áfricas meu camarada, meu irmão, estão espalhadas pela sociedade planetária. Uma vez tomada a consciência das suas existências, jamais conseguiremos nos aquietarmos. Ficam para sempre!

Você Luana, é a nossa guerreira, a nossa Joana D’Arc. Tantas vezes a vi lutar, em simples disputas colegiais, como se ali estivesse acontecendo uma competição pelo universo. O que me encanta em você, a sua virtude santa, é sua simplicidade para definir o que quer e disputar esse objetivo na quietude da sua alma. Entre você e o mundo. Me intriga esse seu jeito de ser. Transparece tanta energia , tanta força e ao mesmo tempo se transforma em mulher meiga, definida, como uma cidadã de olhar adiante.

A Lisa nasceu ligeira. Quase não conseguimos controlá-la, por pouco não sai pela porta do quarto. Veio ao mundo lépida e fagueira como se mantém. Singela como uma flor, lisa como Lisa. Lembro que tivemos que mexer no aniversário da irmã, mas não teve jeito. Nasceu de manhã e a tarde, liberada por um santo médico, já estava em casa. Foi uma festa dupla. Dupla felicidade, duplo amor. Paixão em todas as vistas.

Clara, a caçula,

é bela em rosa e sela uma história.

Sela o canto que o canto encanta.

Enquanto seu canto não encanta o canto,

no seu canto,

Clara

Escrevi isto às 8:30 horas do dia 13 de setembro de 1999, minutos após o seu nascimento, quando ela já escutava seu tio Marcílio executar, no seu bandolim de ouro, um Radamés Gnatalli inspirado, em sua suíte Retratos..

Vendo-os crescerem, perdendo outros apaixonantes personagens da minha vida para o incessante teatro da existência, percebo que nada seria sem as suas vidas.

Nasci para ser pai, como meu pai e me orgulho disso.

Do momento em que vi Davi nascer até perceber Clara aos 11 anos, vejo que valeu a pena. Se tiver outra oportunidade, farei tudo exatamente como fiz. Viverei as mesmas dificuldades só para tê-los.

Nasci para nascê-los, vim para vê-los, sou para tê-los.

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